Rosangela Nieto de Albuquerque
Diego Rafael Santos Silva
INTRODUÇÃO
No desenvolvimento da constituição do sujeito, a escola ocupa um papel indispensável no processo de socialização, tendo, como principal representante ou figura de contato direto com o sujeito, o professor. Dos anos iniciais aos anos finais, na graduação e também na pós-graduação e em todo cenário de formação educacional, o professor se faz presente como um facilitador/mediador do encontro do sujeito com a aprendizagem, construindo com o aluno um caminho de possibilidades de ampliação do conhecimento e possibilitando a inclusão do indivíduo na sociedade.
Ao longo dos anos, o professor caminha em um processo adaptativo às mudanças sociais, pensando constantemente no processo de ensinagem e aprendizagem, conectando o conteúdo “estático” com a realidade que permanece em constante movimento. A presença do professor… sua voz… é insubstituível. Como aponta Lima (2020), o professor é primordial no processo de aprendizagem, estimulando a criatividade e o pensar crítico do aluno. Para que o estudante tenha vontade de aprender e se sinta motivado para tal, o professor, enquanto mediador, exerce um papel fundamental.
De maneira geral, quando pensamos em sala de aula logo vem à mente uma estrutura física com quatro paredes, lousa e carteiras enfileiradas. Porém, no início de 2020, a pandemia da Covid-19 conduziu a uma nova postura acerca do ato de ensinar, do paradigma de sala de aula. Aulas antes vivenciadas de maneira presencial passaram a dar espaço para aulas online. Apesar de a sala de aula ter sido modificada, tendo encontros não mais presenciais (sem a presença física de alunos e professores), o professor permanece presente. Certamente, no ensino presencial ou no ensino remoto, o professor continua pensando de forma criativa e inovadora sobre o processo de ensinagem e aprendizagem, estando ao lado dos alunos na trilha de construção de aprendizagem. Diante dos desafios que a pandemia da Covid-19 trouxe, o medo e a insegurança deram espaço ao protagonismo do professor com a sua criatividade e resiliência.
Certamente, sua presença… sua voz… continuam ecoando…
a sua presença…
As ferramentas de aulas online eram pouco conhecidas e estavam presentes de forma discreta, sendo aplicadas em maioria no Ensino Superior. E, com a pandemia da Covid-19, a necessidade do distanciamento social se tornou fundamental para a preservação da saúde de todos. Visando a não descontinuidade do ano letivo, as ferramentas de aula online passaram a ser utilizadas também na Educação Básica, tanto na rede pública quanto na rede privada.
A sala de aula foi “transportada” de um ambiente físico para o ambiente virtual. A forma como entendemos e vivemos a sala de aula passou, sem dúvida, por uma grande mudança. O processo de interação aluno-professor e aluno-aluno foi modificado, sendo imerso no ambiente virtual, levando o professor a repensar o processo de ensinagem de forma criativa, adaptando-se às ferramentas antes desconhecidas ou não utilizadas.
Mesmo no ambiente virtual e diante das dificuldades do momento, os professores não ficaram inertes, aceitaram o desafio de repensar a práxis pedagógica — o fazer educacional — ressignificando o processo de ensinagem e aprendizagem, possibilitando uma aprendizagem significativa.
Martins e Almeida (2020) evidenciam que a educação online não deve ser compreendida exclusivamente pelas tecnologias digitais, mas que deve estar amparada na afetividade, colaboração, coautoria, aprendizagem significativa, buscando a visão de que aprendemos qualitativamente nas trocas e nas construções conjuntas.
Os professores permanecem em um movimento de repensar a educação para além do aparato tecnológico, pensando em todos os fatores que estão na periferia do processo de ensinagem e aprendizagem. Entende-se, portanto, que a educação, seja ela vivenciada no ambiente presencial ou virtual, está constantemente em conexão com a realidade temporal-histórico-social. Neste contexto, a presença do professor… sua voz… está presente e tem superado os desafios desse momento desafiador.
Além de repensar métodos e reinventar o processo de ensinagem, o professor tem ressignificado as relações afetivas no ambiente virtual. As manifestações afetivas se mostram presentes nas relações virtuais. “As manifestações de afeto presentes na relação professor-aluno podem contribuir tanto para o aprendizado do estudante quanto para a evolução do professor como educador” (MARQUES, 2020, p. 36). A promoção do encontro entre mediador da aprendizagem e o aprendiz produz a construção de um laço relacional que permite ao estudante, diante de um momento de incertezas e medo, a possibilidade da construção efetiva da aprendizagem. O professor, para além de um tutor, se torna uma âncora no momento de instabilidade do aluno.
A dimensão afetiva na ação pedagógica da educação a distância é primordial e deve ser valorizada, pois a relação afetiva faz com que os alunos se sintam mais seguros, construam autoimagem positiva, participem mais efetivamente das atividades propostas. Essa dimensão afetiva cria um ambiente virtual mais agradável, com interações mais fortalecidas entre aluno-aluno, professor-aluno. O que vem a melhorar e facilitar a aprendizagem, a produtividade e as relações interpessoais (LIMA, 2020, p. 27).
O ambiente escolar, mesmo sendo vivenciado de forma digital, pode e deve ser produtor de criticidade, criatividade e questionamentos, que vão além do conteúdo estático. A possibilidade de imersão em um ambiente novo é possível para prover os compartilhamentos de saberes, tornando a figura do professor fundamental no desenvolvimento do estudante.
Szymanski e Ost (2016) evidenciam o pensamento de Vygotsky, que aponta para uma escola onde professores e alunos possam dialogar, duvidar, discutir, questionar e compartilhar saberes, afirmando que a afetividade tem a finalidade de quebrar paradigmas. Para as autoras, junto com o amor que é construído no vínculo afetivo, vem o compromisso e o respeito.
Diante de um cenário desafiador, faz-se necessário repensar e ressignificar o espaço escolar, que passa a ser vivenciado de forma digital. Porém, elementos importantes que constituem e caracterizam o ambiente propício à aprendizagem não podem ser deixados de lado. A dimensão individual tem reflexo direto na sociedade, já que todos os indivíduos estão conectados em uma espécie de teia.
O professor tem cumprido sua missão com maestria. Apesar dos desafios, a sua voz tem ecoado com o “som” da perseverança, da resiliência, da responsabilidade e do compromisso com os estudantes e com a sociedade.
Nesse aqui e agora, o professor ocupa o papel de transformador e permanece na atitude de se inclinar à necessidade de seu aluno de forma individual, mesmo que de forma virtual, pensando para além do conteúdo, para além das possibilidades, das limitações.
Nesse movimento de educar/ensinar, o professor como um ator ativo permanece aprimorando sua prática, utilizando ferramentas antes desconhecidas ou pouco utilizadas em um árduo trabalho de atualização. Pensando e repensando o fazer da sala de aula, ainda olho no olho, mediado por telas.
O professor inspira e motiva no momento em que decide continuar, mesmo frente a uma realidade dolorosa. O professor é como um agricultor que planta sua semente e cuida para que a semente cresça. O professor é um agente transformador, sua presença… sua voz… transcende o tempo e os desafios, ele está sempre pensando no futuro do educando e na construção de uma sociedade melhor, cidadã e mais humana.
LIMA, Mercia Rejane Lopes de. A relação Afetiva entre professor e aluno: a concepção de professores antes e durante a pandemia de Covid-19. João Pessoa, 2020. 88 f.
Disponível em: https://repositorio.ufpb.br/jspui/handle/123456789/17889, acesso em: 23 de agosto de 2020.
MARQUES, R. A ressignificação da educação e o processo de ensino e aprendizagem no contexto de pandemia da Covid-19. Boletim de Conjuntura (BOCA), vol. 3, n. 7, 2020. Disponível em: https://revista.ufrr.br/boca/article/view/Marques, acesso em 26 de agosto de 2020.
MARTINS, Vivian; e ALMEIDA, Joelma. Educação em tempos de pandemia no Brasil: saber e fazeres escolares em exposição nas redes e a educação on-line como perspectiva. Revista Docência e Cibercultura, v. 4, n. 2, maio-ago., 2020, p. 215-224. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/re-doc/article/view/51026, acesso em 27 de agosto de 2020.
OST, Noely Maria; SZYMANSKI, Maria Lídia Sica. Afetividade e cognição: um diálogo possível e necessário na prática docente, 2016, Paraná. Disponível em: http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/cadernospde/pdebusca/producoes_pde/2016/2016_pdp_ped_unioeste_noelymariaost.pdf, acesso em 25 de agosto de 2020.
PELIZZARI, A.; KRIEGL, M. L.; Baron, M. P.; FINCK, N. T. L.; DOROCINSKI, S. I. (2002). Teoria da Aprendizagem Significativa segundo Ausubel. Revista PEC, Curitiba, v. 2, n. 1, p. 37-42. Disponível em: http://files.gpecea-usp.webnode.com.br/200000393-74efd75e9b/MEQII-2013-%20TEXTOS%20COMPLEMENTARES-%20AULA%205.pdf, acesso em: 27 de agosto de 2020.
Rosangela Nieto de Albuquerque é Ph.D. em Educação (Universidad Tres de Febrero), pós-doutoranda em Psicologia, Doutora em Psicologia Social, Mestre em Ciências da Linguagem, psicanalista clínica, professora universitária de cursos de graduação e pós-graduação, psicopedagoga clínica e institucional, pedagoga, licenciada em Letras (Português/Espanhol), autora de projetos em Educação e da implantação de uma clínica-escola de Psicopedagogia Clínica como projeto social e autora e organizadora de treze livros nas áreas da Educação e da Psicologia.